O cenário é uma Caracas em colapso, população em fuga. Mais precisamente, uma casa aos pés do monte Ávila, onde Ulises Kan recebe a missão de montar um abrigo para cães abandonados junto aos funcionários leais do ex-proprietário e a um casal de veterinários desconhecidos. Ao redor da mansão orbitam presenças ambíguas, como a ex-esposa de Ulises, Paulina, e seu pai militar com pinta de Alain Delon; Paco, o centenário guardião do Hotel Humboldt; advogados nos quais se pode confiar; a escritora Elizabeth von Arnim; e o fantasma de Nevado, o cachorro de Simón Bolívar. Repleta de artimanhas, heranças, lendas e esconderijos, a trama vibrante de Calderón assume, por vezes, tons picarescos. Em outros momentos, um lirismo insuspeito encontra a brecha para escapar da tensão que solapa o país: Ulises, duas vezes órfão, “ele, um verme, um parasita”, parece encontrar sentido na família postiça que constrói em torno do abrigo. Para os humanos desamparados de Simpatia, os cães deixados na rua se tornam alento e força motriz.
Sobre a coleção
A coleção CAPITAIS & CAFUNDÓS trabalha com expedições literárias. As rotas são constantemente recalculadas, não há centro. O mapa que temos a bordo nos foi dado por aves migratórias, para quem as fronteiras não existem.
Metrópoles, vilarejos esquecidos, florestas, desertos, sertões, campos ermos, mundos imaginários sólidos ou esfacelados: os destinos são obras cujo território extrapola o pano de fundo, participando como organismo vivo, tão complexo quanto seus personagens.
A tradição flâneur ressurge aqui com outros temperos; da América Latina e do Caribe, certamente, mas não só. Vasculharemos sem receio, talvez com alguma imprudência, curvas improváveis, dobras geológicas, nascentes ainda no subterrâneo – quem sabe uma história insuspeita não esteja ali?
Para quem gosta de horizontes largos, temos assento à janela. Aos que usufruem dos detalhes, reservamos lugares no corredor, onde a história se monta por fragmentos e conversas à meia-voz. De todo modo, não prometemos conforto.
No fim das contas, as fronteiras existem – tudo existe depois de ser criado –, mas suas linhas não inibem o movimento do desejo e da necessidade. Somos migrantes. Reescrevemos. Não nos acomodamos, pois, o mais importante: não sabemos quem somos. E no lugar de um espelho, nos interessa a vista, os voos erráticos que tentam escapar da força dos ventos dominantes.
ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS
Simpatia
Autor: Rodrigo Blanco Calderón
Tradução: Raquel Dommarco Pedrão
Editora: Editora Incompleta
ISBN: 978-65-88104-29-3
Idioma: Português
Altura: 19,5 cm
Largura: 14,5 cm
Edição: 1ª
Ano de lançamento: 2024
Número de páginas: 240
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